Brasil precisa acelerar a vacinação e investir em uma comunicação – nos níveis pessoal e federal – para conseguir reverter a trágica situação atual.
Os países começarem a imunizar suas populações contra a COVID-19. Em todo o mundo, 239,6 milhões de doses de vacina já foram aplicadas. Apesar disso, a pandemia e a crise sanitária global estão longe de serem controladas. Pelo contrário. No Brasil, em fevereiro, 30.484 pessoas morreram após serem infectadas pelo novo coronavírus. O colapso no sistema de saúde, antes restrito ao Amazonas, agora, atinge diversas regiões.
Os motivos para esse “descontrole” estão relacionados a alguns fatores: ritmo lento de vacinação, inexistência de uma campanha de comunicação e que estimule a prevenção contra o Sars-CoV-2, aglomerações e variantes do vírus.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Em 1º de março de 2021, o Brasil já ultrapassou a marca de 10 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, com mais de 240 mil mortes. Após quase um ano de pandemia, a média móvel de óbitos continua alta, e bateu recorde neste mês superando mais de 2 mil pessoas diariamente.
Para agravar a situação, variantes causadas por mutações nas cepas do vírus vêm se espalhando rapidamente, preocupando autoridades e gerando mais insegurança no mundo. Ao todo, três variantes do SARS-CoV-2 estão sob atenção dos cientistas: B.1.1.7 (britânica), 501Y.V2 (sul-africana) e P.1. (brasileira). No Brasil, a cepa do coronavírus, identificada em Manaus, já chegou a, pelo menos, a 17 estados.
Diante desse cenário, o país suspendeu as comemorações de Carnaval em 2021. Apesar disso, festas e aglomerações clandestinas com pessoas sem máscara tomaram conta do país, aumentando as chances de contágio.
Além da conscientização e dos hábitos individuais, a vacinação é a forma mais efetiva contra a disseminação do vírus e controle da pandemia no país. O professor de Medicina Laboratorial da Universidade da Califórnia, Charles Chiu afirmou, em publicação no site da instituição, em janeiro de 2021, que é importante que a vacinação seja rápida e que haja, o quanto antes, a imunidade coletiva de forma a frear esse número crescente de mutações, e, por consequência, a necessidade da atualização periódica das vacinas.
Como abordar as pessoas próximas, familiares ou colegas de trabalho, sobre a necessidade de se cumprir as medidas de proteção recomendadas pela OMS, como o uso de máscaras e distanciamento social? E o que pode ser feito pelo governo para acelerar o ritmo da vacinação no país?
COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Para destrinchar maneiras eficazes de comunicação, incluindo como o diálogo pode ser estabelecido entre amigos, familiares e no trabalho, seja por gestores ou pares, o Portal Health Connections conversou com a facilitadora de diálogos e advogada colaborativa Carolina Couri, para quem gestores devem construir juntamente com seus funcionários, em um esforço mútuo de colaboração, as soluções e as respostas pertinentes.
Eles próprios podem eleger interlocutores e estabelecer pactos de cordialidade e de convivência, os quais também servirão para alertar sobre a prevenção. “Quanto mais transparente e humano for o gestor, maior a probabilidade de ter conexão com a emoção do interlocutor e de construir, em equipe, estratégias a serem alcançadas”, destacou Carolina.
EMPATIA E DIREITO
Carolina explica que não aglomerar e usar máscara, neste momento, é um exercício de empatia, que viabiliza que saiamos de nosso eixo e consideremos as necessidades humanas em questão. “Somos parte de um todo, de um sistema. A ação de um impacta na vida de muitos. A liberdade individual, assim como todos os direitos, não é considerada em termos absolutos. Deve ser ponderada com outros direitos constitucionais existentes. A razão de ser da Constituição é a proteção à vida, em todas as suas formas. O Supremo Tribunal Federal, que é intérprete e guardião máximo da Constituição, em julgamento recente, ponderou os direitos constitucionais em jogo e confirmou o entendimento de que o uso de máscaras em espaços coletivos é obrigatório”, acrescentou a mediadora.
Foto: Andre Coelho/Getty Images
FALTA DE CAMPANHA DE COMUNICAÇÃO
Também falou sobre a importância da comunicação o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde (2007–2010), José Gomes Temporão. “Falta uma campanha nacional de comunicação para conscientização sobre a importância da vacinação e das medidas que devem ser adotadas por cada um. Diante da falta de liderança e de exemplo de comportamento pelo governo federal, as pessoas pensam que estão cada um por si. Daí surgem as aglomerações, pessoas sem máscara na rua etc”.
VACINAÇÃO E NOVAS VARIANTES
O ex-ministro também abordou questões técnicas e políticas da área da saúde com a equipe do Portal. Afirmou ser imprescindível que os brasileiros mantenham as medidas de prevenção, como evitar aglomerações, usar máscaras e lavar as mãos. “Ainda não conseguimos desacelerar o contágio. Pelo tamanho de nossa população, precisaríamos estar vacinando 30 milhões de pessoas por mês para isso, o que não está acontecendo”, avaliou. No primeiro mês de campanha de vacinação no país, foram aplicadas 5,6 milhões de doses.
EUA NA LUTA CONTRA A CRISE SANITÁRIA
Enquanto isso, mesmo com um sistema de saúde público menos estruturado que o brasileiro, os Estados Unidos conseguiram vacinar, nos últimos 37 dias, 50 milhões de pessoas, vendo o número de novos contaminados diários pelo coronavírus sofrer forte queda. Foram aproximadamente 200 mil pessoas a menos infectadas nesse período.
CAMPANHAS DE VACINAÇÃO ANTERIORES
Trazendo dados para comparação, o Temporão lembra que o Brasil já fez campanhas nacionais contra a paralisia infantil, em que 16 milhões de crianças foram imunizadas em um único dia. Em 2010, contra a H1N1, 90 milhões de pessoas foram vacinadas em 3 meses. “Ou seja, temos toda a estrutura de fazer uma belíssima campanha de vacinação em massa, só faltam as vacinas”.
Temporão enfatizou que, quanto mais o vírus circula, mais está sujeito a mutações e mais risco das vacinas disponíveis perderem a eficácia no sentido de proteger os vacinados.
ERROS ESTRATÉGICOS DE FORMAÇÃO DO PNI
Na avaliação do médico, o Brasil, se tivesse, em 2020, fechado acordo de fornecimento de doses com mais empresas, além da FIOCRUZ, já poderia ter começado a vacinar em dezembro. Ao contrário disso, o Ministério da Saúde brasileiro dispôs, até o fim dezembro, apenas da vacina da FIOCRUZ no PNI. O Butantã fez o acordo de compra e produção por conta própria e as outras vacinas, como da Pfizer e da Moderna, também não foram incluídas.
Temporão destacou que o Brasil precisa, rapidamente, ampliar as vacinas à disposição no PNI, mas depende dos insumos exportados pela China. “Em médio e longo prazos, nós temos que diminuir essa vulnerabilidade. Nós temos todas as condições necessárias, científicas, tecnológicas, produtivas e estruturais, para ter um projeto nacional de autossuficiência em vacina e outras tecnologias da saúde”, acrescentou.
“Hoje, os países ricos, que compõem cerca de 16% da população mundial, dispõem do equivalente a 60% das doses no mundo. É absolutamente insustentável” - Temporão, ex-ministro da saúde
COOPERAÇÃO GLOBAL PARA A SAÍDA DA CRISE SANITÁRIA
Temporão salientou que, para essa crise sanitária passar, a distribuição da vacina deve ser ampla em todos os países. “Hoje, os países ricos, que compõem cerca de 16% da população mundial, dispõem do equivalente a 60% das doses no mundo. É absolutamente insustentável”, afirmou, destacando que há uma forte discussão entre os BRICS para que os países mais ricos doem parte das vacinas para o fundo COVAX e que se rediscuta a questão patentária, do acesso e do aumento da produção por parte dos países mais pobres. “Só haverá segurança em relação a esse vírus no mundo se a maior parte da população for vacinada”, concluiu.
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