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Complicações neurológicas de infecções do sistema nervoso central: o panorama atual

Em artigo publicado na revista médica Intensive Care Med, em janeiro de 2020, o neurointensivista Pedro Kurtz e demais autores afirmam que a meningite e a encefalite são as doenças do sistema nervoso central que mais têm consequências drásticas, incluindo lesão permanente do cérebro e até morte. O manejo dessas doenças, segundo os autores, requer uma compreensão mais ampla, não só da epidemiologia ou diagnóstico, mas também de abordagens antimicrobianas e complementares ao tratamento, para reduzir os possíveis impactos.

O artigo destaca que a incidência da meningite bacteriana varia bastante de acordo com o local: vai de 0,5 casos por 100 mil habitantes na Austrália até 207,4 por 100 mil habitantes no Sudão. As causas não virais de encefalite aguda incluem infecção por Mycobacterium tuberculosis, que pode representar 5% das etiologias da meningoencefalite aguda. Outras causas não virais devem ser investigadas em situações específicas, como em pacientes com imunodepressão (toxoplasmose, criptococose) ou que tenham viajado para regiões endêmicas (malária). A encefalite imunomediada não infecciosa, assim como a encefalite disseminada aguda e outras causas associadas a anticorpos, podem representar 20% dos casos.


As taxas de mortalidade, apesar de apresentarem queda global progressiva, ainda podem ser consideradas altas e variam de acordo com o índice de desenvolvimento dos países e agentes causadores. De 1990 a 2016, percebeu-se queda 21% nos registros de morte, principalmente em crianças com menos de cinco anos. Para pacientes de mais idade, a redução foi de apenas 2,7 %, de 1990 até 2013.


Meningoencefalite viral


A meningite viral é uma inflamação na meninge e no cérebro causada por uma infecção por um vírus neurotrópico, dentre eles: herpes simplex, enterovírus, arbovírus, West Nile vírus, varicela-zoster, citomegalovírus (CMV), herpesvírus humano (HHV) e John Cunningham vírus (JCV).


Brasil


Outros patógenos, como Zika ou dengue, devem ser suspeitos durante surtos em determinadas regiões do mundo. O autor cita um estudo da JAMA Neurology de 2017 que investigou um recente surto de infecção por Zika no Brasil. No estudo, em uma série de 40 pacientes com complicações neurológicas decorrentes, foi reportado encefalite em 18%.


No estudo da JAMA, especialistas da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro recrutaram um grupo de adultos internados no Hospital Universitário Antônio Pedro, em Niterói, entre dezembro de 2015 e maio de 2016. Ao todo, 40 pacientes com doenças neurológicas graves participaram do estudo, 29 com síndrome de Guillain-Barré, sete com encefalite, três com mielite transversa e um com polineuropatia crônica.


Do total de recrutados, 35 (88%) apresentaram anticorpos para o Zika. Pesquisadores também registraram aumento de casos dessas complicações neurológicas após a circulação do vírus em território brasileiro. As internações por Guillain-Barré, por exemplo, aumentaram de uma por mês, entre dezembro de 2013 a maio de 2014, para 5,6 por mês, entre dezembro de 2015 e maio de 2016.


A partir deste estudo, podemos perceber que as condições de vida e acesso à saúde ainda destoam de acordo com as condições econômicas e nível de desenvolvimento dos países, devido à grande disparidade social.




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